Estou à frente de, camaleao.co, uma startup que ajuda empresas a contratarem pessoas trans e comecei a ver que quando uma empresa chega até nós há alguns pontos em comuns.

Alguns deles são:

• Falta de conhecimento do universo trans;
• Falta de entendimento daquele grupo marginalizado;
• Falta de oportunidade de perguntar.

E essa lista só aumenta.

Calma, está tudo bem “faltar alguma coisa”. O mais importante é reconhecer que esse desafio existe e ir atrás de superá-lo.

Nem eu mesma que estou a frente dessa empresa de empregabilidade LGBTQIA+ nasci sabendo o que sei. Precisei não só aprender, como conversar com pessoas, modelar processos, entender do mercado e dos desafios daquele grupo.

Eu estudo muito diariamente e busco por conhecimentos, algo que nunca para. Sei que isso é o meu trabalho e preciso estar, cada vez mais, super atualizada e disposta a servir as pessoas.

Não estou no papel de julgar o que é certo ou errado para as pessoas trans, mas sim no papel de ser uma ponte, entre você, que trabalha em uma empresa e deseja contratar trans, e pessoas transgêneras.

Eu te falo isso porque a gente precisa estabelecer um local seguro para as pessoas perguntarem o que desejam perguntar, se atualizarem e trazermos informaçōes para elas que nunca tiveram acesso.

Uma das coisas que você pode e deve fazer é se perguntar o seguinte:

• Se eu recruto pessoas LGBTQIA+, será que meus recrutadores REALMENTE sabem o que é uma pessoa LGBTQIA+? E, mais, uma pessoa trans?

[vocês vão me ouvir falando isso incansavelmente, pois não adianta fazer um processo seletivo inclusivo, sem transfobia se as pessoas não têm espaço para trocar, perguntar e ter novos aprendizados]

Tudo bem se você chegar à conclusão que seus recrutadores não têm conhecimentos sobre diversidade LGBTQIA+, desde que você os ensine sobre isso daqui para frente, beleza?

E isso é só uma das coisas que te trouxe de reflexão, agora, te apresento mais 16 questionamentos sobre empregabilidade trans que acredito que você deveria estar fazendo AGORA.

São eles:

• Mesmo que você contrate uma pessoa trans para um cargo de entrada, essas oportunidades têm como foco desenvolvê-la como talento internamente?
• Suas vagas são descritas em linguagem neutra de gênero para que as pessoas trans vejam que vocês se preocupam e respeitam com o modo como elas se identificam perante o mundo?
• Você está saindo da sua bolha e divulgando as suas vagas em espaços, online ou offline, que realmente atraiam pessoas trans para os seus processos seletivos?
• No formulário de envio de currículo, há as alternativas “sexo” como feminino, masculino e outro? Se sim, além de demonstrar que a sua empresa está desatualizada, apresenta que você não sabe a diferença entre gênero e sexo. O que você pode fazer para se atualizar sobre esses conhecimentos?
• Sua portaria está preparade para receber uma pessoa que tem uma expressão de gênero de uma mulher e os seus documentos ainda apresentados com o nome de um homem, por exemplo?
• Seu / sua recrutadoreE está preparadE para perguntar para uma pessoa trans como ela deseja se identificar desde o primeiro contato para o convite para o processo seletivo com a uma empresa?
• Vocês perguntam para essa pessoa se ela tem condições financeiras para participar de uma entrevista presencialmente? Se a resposta da pessoa é não, como pensam em realizar o processo seletivo com ela?
• Você pergunta para as pessoas, trans ou não, se elas têm dispositivos e internet para ficar online com vocês por X tempo para fazer uma entrevista com seu time?
• Você pode fazer uma entrevista sem abrir a câmera para desenvolver um processo seletivo (parcialmente) à cega?
• Seu / sua recrutadorE está preparadE para usar o nome e o artigo que uma pessoa trans está utilizando todos os pontos de contato com vocês, desde pré-entrevista, entrevista e pós-entrevista?
• Essa pessoa recrutadora também está treinada para realmente fazer o processo seletivo em si, avaliando se essa pessoa trans é compatível com o que se busca para a vaga, sem se focar nos seus processos de readequação de gênero que ela passa / está passando, como por exemplo, se ela fez ou não cirurgia, se ela toma ou não hormônio, etc.?
• Caso uma pessoa trans necessite ir ao banheiro durante o processo seletivo presencial com vocês, sua empresa está preparada para garantir que ela não sofra nenhuma transfobia quando estiver nele e possa usar aquele que ela deseja de acordo com o gênero que ela se identifica?
• Se você decidir contratar uma pessoa trans, você já conversou com o seu jurídico para saber onde pode e como pode usar o nome social de uma pessoa trans, caso ele não seja ainda retificado?
• Você já pensou em conversar com essa pessoa para ver como a sua empresa poderia ajudá-lE, caso ela queira, no processo de retificação do seu nome?
• Você tem um planejamento para preparar o ambiente para aquele líder que vai trabalhar com ela a aceita como ela é? Além disso, como ele também pode ajudar a proporcionar um ambiente para que todos, seu time / empresa, se sintam confortáveis e a respeitem aquela pessoas trans no seu dia a dia do seu trabalho?
• Quais ações vocês estão pensando, planejando e promovendo para quebrar a transfobia que há / pode haver na sua empresa, principalmente a partir da contratação de uma pessoa trans?
• Você / sua empresa está preparadE para não transformar essa pessoa trans em um case / tokenismo, pois ela não tem obrigação nenhuma de ajudá-lE nos seus desafios diários?

E um bônus:

Em uma nota de 0 a 5, qual você daria para os processos de contratação de pessoas trans na sua empresa?

Essas perguntas vão te abrir os olhares para a demonstração de que é muito mais do que só contratar e há muitos pontos que PRECISAM ser amarrados dentro da sua empresa.

E mais, vai te fazer ver como está o seu treinamento sobre o universo trans e o entendimento dessa comunidade.

Trabalhar com o universo de pessoas trans é SIM repensar em detalhes que talvez, hoje, estejam obscuros para você.

E fique tranquile, pois não é um bicho de sete cabeças.

O que acredito é que você precisa ter um plano base sobre contratação de pessoas trans em que pensa justamente nesses detalhes e aí você modele essas boas práticas para a sua empresa.

Além, é claro, que também trazem visões sobre esse grupo marginalizado socialmente. Algumas que talvez você não saiba porque não está inseride dentro dos conhecimentos dessa comunidade.

E, com certeza, anteciparam alguns possíveis casos de transfobia no seu processo seletivo para pessoas trans.

Confia em mim, isso que eu estou te falando dá sim resultado.

Inclusive, esses são os mesmos questionamentos que fazemos / damos de suportes para os clientes de camaleao.co que já contrataram candidates LGBTQIA+ conosco, como Accors Hotel, Electrolux, LivUp, etc.

Olha só esse comentário maravilhoso de um dos candidates que foi contrato pela Electrolux, justamente nesse processo seletivo focado em pessoas trans:

Por fim, espero que as dicas desse artigo te deem um direcionamento para seus desafios no processo de contratar pessoas trans. E caso queira a ajuda do time camaleao.co, entre contato com a gente por aqui.